Novo robô Atlas e falência tecnológica do país

   Fazia muito tempo que eu não escrevia aqui no blog, sendo que eu já havia cogitado em desativá-lo. Contudo, vi um vídeo do novo Atlas, da Boston Dynamics, que me chamou a atenção por dois motivos.
   O primeiro é que o robô é simplesmente incrível, o que reforça o que eu já vinha falando há anos: a Boston Dynamics está pelo menos uns dez anos à frente de qualquer outro grupo ou instituição que trabalha com humanoides.
   O segundo motivo é que aqui na UFMG temos um projeto para construir o humanóide Poppy. Esse projeto foi submetido no início de 2014, mas aprovado apenas no final daquele ano, sendo que eu só assinei o termo de outorga (documento que dá início oficial ao projeto) em julho de 2015 e até hoje, praticamente março de 2016, a verba ainda não entrou. Logo o projeto está como muitos projetos no Brasil: no papel.
   Dado que esse tipo de coisa não acontece só comigo e costuma ser um problema crônico, fica clara a mensagem: não queremos, enquanto nação, estar na vanguarda científico-tecnológica. No caso de ciência e tecnologia, não basta culpar apenas o governo, pois em muitas instâncias importantes os tomadores de decisões são os próprios cientistas e professores das universidades.
   Além disso, a própria sociedade negligencia o assunto e compactua com a mediocridade do nosso desenvolvimento tecnológico. Um bom exemplo disso foi o episódio do "armazenamento de vento", no qual a presidente Dilma disse
"Até agora, a energia hidrelétrica é a mais barata, em termos do que ela dura com a manutenção e também pelo fato da água ser gratuita e da gente poder estocar. O vento podia ser isso também, mas você não conseguiu ainda tecnologia para estocar vento. Então, se a contribuição dos outros países, vamos supor que seja desenvolver uma tecnologia que seja capaz de na eólica estocar, ter uma forma de você estocar, porque o vento ele é diferente em horas do dia. Então, vamos supor que vente mais à noite, como eu faria para estocar isso? Hoje nós usamos as linhas de transmissão. Você joga de lá pra cá, de lá pra lá, pra poder capturar isso, mas se tiver uma tecnologia desenvolvida nessa área, todos nós nos beneficiaremos, o mundo inteiro."
A turba enfurecida na internet, na mídia e nos botequins Brasil afora concentrou-se em fazer piadinhas sobre como a presidente tinha uma inteligência limitada ao sugerir que podia-se estocar vento ou sobre o fato de que água não era gratuita e que todos deveríamos mandar a conta de água para a presidente pagar. O que a imensa maioria negligenciou foi o fato da presidente em seu discurso ter delegado a contribuição tecnológica a outros países.

   Na minha opinião, não interessa se ela estava falando em mandar foguete para lua, armazenar vento ou projetar uma máquina de movimento perpétuo. Afinal, ela não é engenheira e portanto eu não espero muita coisa genial em suas sugestões científicas/tecnológicas. O que espero, contudo, é que ela e todos os gestores desse país tenham noção da importância de se produzir tecnologia de ponta aqui no Brasil. E não adianta dizer que essa negligência é coisa de um governo em particular, pois ela é um problema crônico da nação. As pessoas simplesmente assumem que tecnologia boa só vem de fora e só falam sobre o assunto quando o preço da tecnologia importada fica inviável devido à alta do dólar.

   Enquanto a nação negligenciar a ciência e tecnologia, seguiremos como um país medíocre. Pelo visto, ficaremos um bom tempo tendo que nos contentar com o feito dos outros. Palmas para a Boston Dynamics!


  

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