Pérolas da assembléia dos professores

Eu, jovem professor recém doutor, estava na minha primeira assembleia para decidirmos a posição da UFMG perante o comando nacional de greve. Uma professora da Faculdade de Educação (FAE) pediu a palavra e leu o manifesto que alguns professores de sua faculdade escreveram.

Em resumo, o manifesto dizia que o movimento de greve não deveria ser ligado somente ao movimento sindical, mas deveria também contemplar aspectos científicos, já que a universidade se apoia sobre o tripé da educação, pesquisa e extensão.

E então veio a reação. Um professor, não lembro de qual faculdade, começou dizendo "Bla bla bla, bla bla bla (...) e digo mais, PARTICIPAR DO SINDICATO TAMBÉM É FAZER CIÊNCIA!". Quem me conhece já deve ter imaginado a cara que eu fiz.

Um segundo professor, agora da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH), pede a palavra e se direciona à professora da FAE que escreveu o manifesto: "Cara colega, já digo de antemão que eu discordo em gênero, número e grau deste seu manifesto. Mas não se preocupe se você não gostar do que vou dizer, não tenho problema em ser antipatizado. ESTE MANIFESTO É RACISTA. Eu, como filho de Oxum, COMO NEGRO, não posso aceitar este manifesto. Ele é excludente, bla bla bla bla bla...".  Acho que toda a assembleia teve um pouco de dificuldade em entender a relação entre o manifesto e a exclusão dos negros filhos de Oxum...

No final, consegui entender porque boa parte da sociedade, inclusive alguns alunos da UFMG, tem dificuldade em entender o trabalho do professor. Alguns professores não conseguem nem diferenciar atividade no sindicato da atividade científica. Outros apelam dizendo que qualquer coisa que contrarie suas opiniões é racista, mesmo que o conteúdo não tenha absolutamente nada ligado a raça, cor ou qualquer coisa remotamente próxima a isso. Dessa forma, como podemos ter voz diante da sociedade com esse tipo de argumentação sem pé nem cabeça?

Pelo menos alguns professores tiveram um discurso mais lógico e consistente, o que me fez manter uma tênue esperança na humanidade...

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