Nova série: experiência própria
Em ciência, a experiência do indivíduo nunca pode ser encarada como verdade universal. Mesmo que ela seja uma verdade individual, que faz sentido para o sujeito, essa experiência não pode ser extrapolada e generalizada, como se esse modelo construído fosse valer para o resto da humanidade. Assim, quando alguém alega que "pela sua experiência, isso é X", esse X não necessariamente corresponde à verdade. Para que X seja verdade, deve ser demonstrado. Caso contrário, a alegação simplesmente vale como um abuso da autoridade científica ou, se for dita num botequim, vale como conversa fiada.
Aonde quero chegar com isso? A nenhum lugar. Esta é apenas uma introdução para a nova série de postagens, entitulada "Experiência própria", em que eu conto coisas que eu venho escutando ao longo dos anos. A maioria são as chamadas "pérolas", que mostram como funciona o imaginário coletivo em relação à pesquisa, educação, entre outras coisas mais.
Comecemos com uma experiência peculiar que "demonstra" (olha só o princípio de abuso) a visão que as pessoas têm do doutorado e ciência em geral.
Estava eu numa consulta médica, conversando com minha médica de longa data. Ela pergunta sobre minha saúde física, mental e sobre minha vida em geral. Eu conto que havia sido aprovado num concurso para professor doutor da UFMG, e que então iria ser professor-pesquisador. Ela me pergunta "mas Bruno, depois de todo esforço que você teve de fazer mestrado, doutorado no exterior, você não acha que você vai perder tudo isso que você aprendeu?".
Passado o choque, pois não esperava escutar isso de uma pessoa com bom nível de educação (que inclusive havia se formado na UFMG), expliquei gentilmente que um professor, além de formar pessoas (e para isso deve possuir conhecimento que corresponde ao estado da arte), também produz um produto muito importante: o próprio conhecimento. Continuei explicando que o conhecimento é produzido por meio de pesquisa e de investimentos de alto risco, que muitas vezes a iniciativa privada não está disposta a correr, e que esse conhecimento tem o potencial de ser reaproveitado por cientistas do mundo todo, acarretando em prosperidade e progresso.
No fim, acho que ela entendeu. Ou não...
Aonde quero chegar com isso? A nenhum lugar. Esta é apenas uma introdução para a nova série de postagens, entitulada "Experiência própria", em que eu conto coisas que eu venho escutando ao longo dos anos. A maioria são as chamadas "pérolas", que mostram como funciona o imaginário coletivo em relação à pesquisa, educação, entre outras coisas mais.
Comecemos com uma experiência peculiar que "demonstra" (olha só o princípio de abuso) a visão que as pessoas têm do doutorado e ciência em geral.
Estava eu numa consulta médica, conversando com minha médica de longa data. Ela pergunta sobre minha saúde física, mental e sobre minha vida em geral. Eu conto que havia sido aprovado num concurso para professor doutor da UFMG, e que então iria ser professor-pesquisador. Ela me pergunta "mas Bruno, depois de todo esforço que você teve de fazer mestrado, doutorado no exterior, você não acha que você vai perder tudo isso que você aprendeu?".
Passado o choque, pois não esperava escutar isso de uma pessoa com bom nível de educação (que inclusive havia se formado na UFMG), expliquei gentilmente que um professor, além de formar pessoas (e para isso deve possuir conhecimento que corresponde ao estado da arte), também produz um produto muito importante: o próprio conhecimento. Continuei explicando que o conhecimento é produzido por meio de pesquisa e de investimentos de alto risco, que muitas vezes a iniciativa privada não está disposta a correr, e que esse conhecimento tem o potencial de ser reaproveitado por cientistas do mundo todo, acarretando em prosperidade e progresso.
No fim, acho que ela entendeu. Ou não...
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Beijos